Como a "autodestruição" pode trazer mais segurança aos usuários do WhatsApp?

Ana Luiza Fontana
6 min readJun 28, 2021

Muito se fala no tema de segurança em meio à internet, especialmente nos dias de hoje em que nos tornamos muito dependentes dela. Assim, a preocupação com dados e outras informações compartilhadas por meio de sites e aplicativos tornou-se um tópico de grande relevância.

O WhatsApp, que é um gigante mensageiro, tendo 2 bilhões de usuários no mundo e 120 milhões somente no Brasil, costuma protagonizar discussões acerca desse tema. Recentemente, houve uma alteração nos seus termos de uso, o que gerou um burburinho nas redes e reacendeu novamente esse debate sobre o tratamento de dados, a Lei Geral de Proteção de Dados e a criptografia adotada pelo aplicativo como proteção.

Logotipo do WhatsApp

Pensando nesse cenário, vi uma oportunidade de desenvolver uma feature para esse aplicativo com a qual os usuários irão se sentir menos vulneráveis ao compartilhar suas informações.

Desse modo, busquei investigar mais sobre a seguinte questão: como o usuário percebe sua segurança diante das informações que compartilha por meio do WhatsApp?

As pessoas parecem não se sentir seguras

Quem nunca compartilhou alguma foto ou informação pelo WhatsApp e depois ficou com aquela pulguinha atrás da orelha?

Por mais que o aplicativo conte com a criptografia de ponta-a-ponta, minhas pesquisas indicam que a desconfiança é uma realidade que ainda está bastante presente.

A criptografia de ponta-a-ponta é um recurso de segurança que protege os dados durante uma troca de mensagens, de forma que o conteúdo só possa ser acessado pelos dois extremos da comunicação: o remetente e o destinatário. Usada atualmente em aplicativos como o WhatsApp, a ferramenta é uma implementação da criptografia assimétrica e garante que as informações não sejam interceptadas.

Para chegar a essa conclusão, realizei uma pesquisa quantitativa com 138 participantes por meio de um formulário que abordava tanto o compartilhamento de informações no geral quanto de conteúdo sensível.

Nesse caso, generalizei o termo "conteúdo sensível" como sendo qualquer tipo de informação que a pessoa teria receio de se tornar pública por algum motivo.

Dados acerca da percepção dos usuários sobre a segurança das informações compartilhadas pelo WhatsApp

Analisando os dados, percebi que cerca de metade dos usuários não se sentem totalmente seguros em relação ao compartilhamento de informações porém a grande maioria continua compartilhando essas informações, inclusive conteúdos sensíveis.

Para entender mais a fundo essa dinâmica, realizei seis entrevistas qualitativas com usuários do WhatsApp e os pontos de destaque foram:

  • A maior parte do conteúdo sensível enviado são fotos explícitas e dados relacionados a contas bancárias, documentos, entre outros
  • Ao enviarem essas informações, a maioria (cinco entrevistados) afirmou sentir emoções como medo e ansiedade

Assim, por mais que não se sintam seguras, as pessoas continuam compartilhando essas informações por mais que tenham se arrependido em algum momento e sintam medo e ansiedade pela possibilidade de vazamento.

Portanto, optei por priorizar a resolução do ponto de dor mais relevante, sintetizando-o na seguinte questão: como auxiliar o usuário a sentir mais segurança ao compartilhar informações sensíveis pelo WhatsApp?

"Autodestruição" como oportunidade

Após a realização de uma análise de competidores, me deparei com as features de "autodestruição".

São funcionalidades que permitem que o usuário determine por quanto tempo as informações que ele compartilha permanecerão disponíveis para o destinatário; depois disso elas são automaticamente excluídas.

Cubo se desintegrando como a "autodestruição" dos conteúdos

Diante desse cenário, propus a implementação de uma feature similar: um timer que, quando ativado, gere a “autodestruição” de qualquer conteúdo enviado na conversa após um determinado período de tempo. Isso valeria para mensagens de texto, áudios, fotos e vídeos. Assim, o usuário se sentirá mais seguro ao compartilhar qualquer tipo de informação pelo WhatsApp, uma vez que o destinatário terá acesso limitado a ela.

Após a implementação da feature, os testes podem ser feitos por meio de protótipos e pela análise dos feedbacks dos usuários (quando a funcionalidade já estiver disponibilizada oficialmente).

Desse modo, utilizei as ferramentas de caso de uso e fluxo do usuário com o objetivo de entender melhor como funciona o fluxo atual de envio de informações e como será o fluxo após a implementação do timer. Além disso, também me auxiliou a decidir qual seria o fluxo trabalhado no projeto e os pontos a serem priorizados.

Fluxos do usuário “as is” and “to be” para enviar informações pelo WhatsApp

Devido a ampla gama de "tipos" de conteúdo a serem enviados, optei por um timer de "ativação única", ou seja, a partir do momento em que o usuário o habilita e configura o tempo de duração, o timer permanecerá ativado para tudo que ele enviar até ser desabilitado novamente. Além disso, isso também seria benéfico para aqueles que desejam enviar vários conteúdos por vez.

Protótipo

Pensando nisso, desenvolvi um protótipo com a implementação dessa feature, e o fluxo que escolhi para ser trabalhado foi o de ativar o timer, configurá-lo e enviar uma foto da galeria.

Confira aqui o protótipo interativo (para melhor visualização, vá em options e selecione "Fit — scale down to fit"):

Protótipo hi-fi interativo

Optei por posicionar o ícone do timer do lado esquerdo na barra inferior e, ao clicar, ele te dá a opção de escolher por quanto tempo deseja deixar aquela informação disponível para o destinatário. Ao confirmar, o timer habilitado fica em destaque e, além disso, também aparece um lembrete na conversa reforçando essa ativação.

Após a visualização da foto pelo destinatário, ela expira e aparece o seguinte aviso: "isso não está mais disponível".

Testes

Realizei testes de conceito e usabilidade com um total de 8 usuários, utilizando protótipos nas versões mid-fi e hi-fi. A tarefa foi habilitar o timer para seis segundos e enviar uma foto da galeria.

Em seguida, deixo os principais pontos de destaque elencados nos testes:

Mid-fi (3 usuários)

  • Todos optaram por iniciar o fluxo indo direto para a câmera ao invés de ativar o timer antes
  • Todos cumpriram a tarefa porém tiveram dificuldade de encontrar o ícone do timer à primeira vista (ele estava posicionado ao lado do ícone da câmera)
  • Encontrei também alguns problemas relacionados ao conceito, uma vez que dois usuários disseram não ter entendido muito bem o modo de funcionamento da ativação do timer
  • Os usuários ficaram confusos com a finalização da tarefa e não entenderam muito bem se ela tinha sido de fato finalizada

Depois dessa rodada de testes, fiz algumas modificações no protótipo já na versão hi-fi. A primeira delas foi alterar a localização do ícone do timer, passando a colocá-lo ao lado ícone "+", no canto inferior esquerdo para aumentar sua visibilidade. Além disso, também adicionei um estado de ativação mais chamativo, uma vez que as pessoas não estavam conseguindo distinguir com tanta clareza esse processo de habilitação.

Por fim, para auxiliar o usuário a perceber a finalização da tarefa, adicionei uma última tela referente ao estado de "expiração" do conteúdo após a visualização do destinatário.

Hi-fi (5 usuários)

  • Quatro usuários permaneceram iniciando a tarefa indo direto para a câmera antes de ativar o timer
  • Todos cumpriram a tarefa porém a maioria (quatro pessoas) continuou com dificuldades para localizar o ícone do timer
  • Percebi pontos positivos em relação à mudança no estado de ativação
  • Os usuários ainda continuaram um pouco confusos em relação à finalização da tarefa
Barra inferior com a incorporação do ícone do timer

Acredito que um dos principais pontos a serem trabalhados seja em relação à localização do ícone do timer, pois os usuários continuaram tendo muita dificuldade para notá-lo.

Próximos passos

  • Adicionar o ícone do timer na tela anterior ao envio de fotos, uma vez que esse foi, na maioria das vezes, um fluxo mais intuitivo para os usuários
  • Habilitar uma configuração que permita ao usuário decidir se ele quer ou não que as mensagens expiradas continuem "visíveis" ou somente desapareçam (para evitar que a conversa fique muito poluída com avisos de conteúdo indisponível)
  • Impedir/dificultar os screenshots por qualquer uma das partes enquanto o timer estiver habilitado

Obrigada por ter tirado um tempinho para essa leitura e se tiver algum comentário ou sugestão sinta-se à vontade (:

Até a próxima semana!

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Ana Luiza Fontana

UX/UI Designer student with a background in Psychology and Cognitive Sciences enthusiastic